12 setembro, 2007

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Londres, Hyde Park
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Quantas vezes, contudo, não anseio visualmente por esta paz de onde quase fugiria agora, se fosse fácil ou decente! Quantas vezes julgo crer – lá em baixo, entre as ruas estreitas de casas altas – que a paz, a prosa, o definitivo estariam antes aqui, entre as coisas naturais, que ali onde o pano de mesa da civilização faz esquecer o pinho já pintado em que assenta! E, agora, aqui, sentindo-me saudável, cansado a bem, estou intranquilo, estou preso, estou saudoso.
Não sei se é a mim que acontece, se a todos os que a civilização fez nascer segunda vez. Mas parece-me que para mim, ou para os que sentem como eu, o artificial passou a ser o natural, e é o natural que é estranho. Não digo bem: o artificial não passou a ser o natural; o natural passou a ser diferente.
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Bernardo Soares, in Livro do Desassossego
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6 comentários:

CHEVALIER DE PAS disse...

excentricidades, dirão!

Haddock disse...

...
ou "simples" infelicidade.

Anónimo disse...

É difícil a paz de cada um.
Ela está onde estiver a vontade, o querer tê-la. Na natureza, no bulício.
Mas muitas vezes, o mesmo que quer paz de espírito é capaz de violar o conceito brutalmente. Na natureza, no bulício.
Agora que o progresso parece ter tomado conta, definitivamente, da paz colectiva...questiono se ela é a soma das individuais... ou não se aplica aqui a lei aritmética.

Não, não se aplica.
Na natureza. No bulício.
Em paz falsa. Nossa.

teresamaremar disse...

Nada paga a nossa paz nem a nossa tranquilidade.

Esse estado de serenidade demora. Não nos deixarmos afectar pelos "ruídos", não permitir que o menos válido nos perturbe, aprende-se, mas demora.
É preciso aprender a ver mais além, focarmo-nos na verdadeira essência. Acreditar. Confiar.

tolilo disse...

que música mais bonita !

isabel disse...

e o "serpentine" em frente!

beijo teresamar