O Poeta Inventa Viagem, Retorno e Morre de Saudade
Se for possível, manda-me dizer: - É lua cheia. A casa está vazia - Manda-me dizer, e o paraíso Há de ficar mais perto, e mais recente Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia Tão longo como a noite. Se é verdade Que sem mim só vês monotonia. E se te lembras do brilho das marés De alguns peixes rosados Numas águas E dos meus pés molhados, manda-me dizer: - É lua nova - E revestida de luz te volto a ver.
Das minhas viagens Dir-te-ei do mel silvestre e das amoreiras bravas que bordejam as pedras nuas e descalças de todas as estradas. e dir-te-ei do saibro e da poeira fina que escorrem lenta e obliquamente ao som de guizos dos caminhos sinuosos do meu tempo único.
dir-te-ei ainda dos céus e das nuvens em que vagueio e das pistas de asfalto e areia em que pouso mordendo a saliva quente dos pântanos em que me perco.
Dir-te-ei também da terra úbere que acolhe erecta no seu seio a raiz de lume do teu trigo.
dir-te-ei talvez das dunas e das muralhas que protegem a terna plaga e das doces colinas bem no centro da nudez de todas as margens.
na partilha das memórias dilaceradas dir-te-ei, outrossim, dos momentos solares, dos murmúrios, dos sorrisos e das palavras antigas, e, assim, dos clarões e fráguas das clandestinas viagens que incendeiam de luz e orvalho e cinzas a monotonia que se adentra e alastra pelas minhas já queimadas retinas.
3 comentários:
O Poeta Inventa Viagem,
Retorno e Morre de Saudade
Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.
Hilda Hilst
Das minhas viagens
Dir-te-ei do mel silvestre e das amoreiras bravas
que bordejam as pedras nuas
e descalças de todas as estradas.
e dir-te-ei do saibro e da poeira fina que escorrem
lenta e obliquamente ao som de guizos
dos caminhos sinuosos do meu tempo único.
dir-te-ei ainda dos céus e das nuvens em que vagueio
e das pistas de asfalto e areia em que pouso
mordendo a saliva quente dos pântanos em que me perco.
Dir-te-ei também da terra úbere
que acolhe erecta no seu seio
a raiz de lume do teu trigo.
dir-te-ei talvez das dunas
e das muralhas que protegem
a terna plaga e das doces colinas
bem no centro da nudez de todas as margens.
na partilha das memórias dilaceradas
dir-te-ei, outrossim, dos momentos solares,
dos murmúrios, dos sorrisos e das palavras antigas,
e, assim, dos clarões e fráguas das clandestinas viagens
que incendeiam de luz e orvalho e cinzas
a monotonia que se adentra e alastra
pelas minhas já queimadas retinas.
dir-te-ei!
peregrino
Hilda Hilst...
boa noite Peregrino
Grata pelas palavras.
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